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terça-feira, outubro 28, 2003

CRÍTICAS DE FILMES

Ken Park - Quem És Tu ?
Realização: Larry Clark, Edward Lachman; Intérpretes: James Bullard, James Ransone, Tiffany Limos, Stephen Lasso, Adam Chubbuck; Título Original: Ken Park; Nacionalidade: EUA, Holanda, França, 2002.



Filme-choque deste Verão, Ken Park é uma obra perturbadora e dolorosa - realizada pelo sempre polémico Larry Clark (Kids (1995), Another Day in Paradise (1998) e Bully (2001)) em companhia do director de fotografia Edward Lachman que trabalhou com Steven Soderbergh em The Limey (1999) e Erin Brockovich (2000), Sofia Coppola em The Virgin Suicides (1999) e Todd Haynes em Far From Heaven (2002) - que se assume logo desde o início como um retrato realista, frontal, negro, cru e lancinante dos meandros da adolescência, mundo conturbado e em permanente evolução onde abundam o sexo, a droga, a violência e a morte. É neste universo decadente, turbulento, perverso e transfigurador que Clark e Lachman nos descrevem a vida de quatro adolescentes (Shaw, Tate, Peaches e Claude) da pequena cidade Visalia do estado da Califórnia, tendo todos eles como link o adolescente que dá título ao filme e que ao contrário destes concretiza o acto radical e trágico de pôr fim à vida. Nesta cidade aparentemente pacata os valores sociais e morais são no dia-a-dia corrompidos de forma brutal por indivíduos solitários que mergulham gradualmente num ambiente de total depravação, alheamento e sedentarismo sendo a essência dos comportamentos distorcidos dos pais transmitida a um ritmo constante aos seus filhos que se encontram numa crucial fase de modificações físicas e psicológicas, sofrendo assim estes um processo acrescido de desorientação mental/emocional - Shaw (Bullard) tem um affair com a mãe da sua namorada; Tate (Ransone) masturba-se (recorrendo à asfixia erótica) enquanto visiona um jogo de ténis, assassinando o avô por ser batoteiro e a avó porque entra no seu quarto sem bater à porta; Peaches (Limos), filha de um pai estritamente católico, é afinal de contas uma ninfomaníaca sádica e Claude (Jasso) usa as drogas como meio de fuga à sua família. Contudo o alvo do olhar directo, verdadeiro e pungente de Clark não são só os adolescentes mas também os adultos - a mãe da namorada de Shaw é irresponsável e cínica; o pai de Claude é alcoólico (tal como a mãe) e assume-se como macho quando na realidade é um traste patético, vergonhoso e miserável (o ideal farrapo humano) que sente um fascínio sexual pelo filho, responsabilizando-o por tal atitude (o que culminará na tentativa falhada de abuso sexual do mesmo e posterior frase característica de persona non grata : "Ninguém me ama!") . Apesar do argumento que analisa criticamente, sem piedade nem rodeios, a sociedade e respectivos habitantes (fidedignos piolhos sociais) e do elenco amador que revela novos talentos cinematográficos (salientam-se as interpretações de Ransone e Limos), a realização é demasiado "fotográfica", i.é, recorre inúmeras vezes a imagens estáticas que têm como finalidade dar particular relevância às impressões visuais, denotando-se em contrapartida a carência de uma caracterização aprofundada e sagaz das personagens e da música (que devia estabelecer uma relação simbiótica com as imagens); o filme exibe igualmente cenas de sexo explícito ofensivo (motivo que condicionou a censura nos E.U.A e proibição na Austrália) que comprovam a visão real e (para defeito do filme) obsessiva que Clark tem do acto sexual - o próprio afirma : "Se dizem que o amor é uma droga, então o sexo é a sua dose mortal de heroína". Resumindo, Ken Park é um filme que desafia normas preestabelecidas, choca mentalidades pela frontalidade e sinceridade com que aborda o genus vivendi da sociedade moderna e que marca pela diferença qualquer espectador (e ainda bem que existem filmes assim !).



Para espectadores que gostam de arriscar.

O Melhor : O argumento, a fotografia, Tiffany Limos e James Ransone.
O Pior: Overdose de sexo explícito e análise "fotográfica" megalómana do real.

Classificação: ***1/2 ; 6.4/10


NOTA:

Critérios de classificação:

10-Obra-Prima (OP)
9-Muito bom (*****)
8-Bom + (****1/2)
7-Bom (****)
6-Suficiente+ (***1/2)
5-Suficiente (***)
4-Insuficiente+ (**1/2)
3-Insuficiente (**)
2-Mau (*)
1-Péssimo (--)

Realização: 35%
Argumento: 30%
Elenco: 25%
Outros: 10%

3 Comments:

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